quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Frivolidades da nossa política

Crônica do Tan

por Tancredo Junior

O Brasil está se consolidando como um país sério e democrático. Realizamos mais um pleito eleitoral, com as eleições mais bem estruturadas de todos os tempos.
Temos tecnologia de ponta, que nos permite saber o resultado das urnas eletrônicas poucas horas depois de encerrada a votação. Mesmo nos redutos mais remotos, lá no Amazonas, ou nos confins do Oiapoque, os dados são enviados por satélite, sem o menor risco de erro ou fraude. Nem o Tio Sam dispõe de tamanha competência no que tange à apuração eleitoral.
Nada mal para um país que completa em 2008 vinte anos de democracia plena. Parece que foi ontem. Eu era um adolescente, iniciando na militância política da UNE em minha cidade quando a Carta Magna foi promulgada, em 1988, trazendo grandes conquistas e direitos que nos haviam sido surrupiados pelos milicos (isso eu sei porque meu pai contava).


Talvez o Partido dos Trabalhadores se fie naquela máxima: “somos um país de gente que esquece facilmente das coisas”.

Nossas instituições estão mais firmes do que nunca. De vez em quando o Executivo, o Legislativo e o Judiciário balançam, mas não caem. Umas rusguinhas aqui, outras ali, e vamos levando. O governo federal edita uma medida provisória, o congresso faz biquinho e tranca a pauta de votações, magistrados acusam a Abin e a PF de grampo telefônico, um juiz (chefe da mais alta Corte do país) libera da cadeia uns banqueiros acusados de fraude no sistema financeiro, e ainda proíbe que a polícia os algeme. Coisinhas bobas, típicas de democracias latino-americanas. Não tem problema. Ainda estamos amadurecendo nossos pilares judiciários. “A jurisprudência no Brasil ainda é recente e precisa se fortalecer”, disse um juiz. Quem um dia vir a depender do judiciário para dirimir suas demandas está perdido!

A exceção são alguns casos - poucos, é claro! -, de corrupção em todas as esferas do poder público. O destaque é para o Poder Executivo, campeão da bandalheira institucionalizada.
Mas fazer o quê? Se até mesmo o presidente da República se diz vítima de amigos - e familiares - envolvidos em malandragem envolvendo o desvio de grana pública, imagina o resto. Coitado! A vantagem (ou será desvantagem?) é que ele é sempre o último a saber das coisas, ou pelo menos é isso que ele afirma, que “não sabia de nada”.

Mais da metade dos eleitores não se lembra em quem votou nas eleições passadas, imagina se vai lembrar de quem roubou ou deixou de fazê-lo.

O PT é o partido da vez. Embalado pela popularidade ascendente do presidente Lula, pretende eleger mais prefeitos e vereadores do que antes. Mas esquece-se que seus dirigentes estiveram envolvidos num dos mais crassos casos de corrupção partidária que se tem notícia. Talvez o Partido dos Trabalhadores se fie naquela máxima: “somos um país de gente que esquece facilmente das coisas”. É verdade. Mais da metade dos eleitores não se lembra em quem votou nas eleições passadas, imagina se vai lembrar de quem roubou ou deixou de fazê-lo. Por exemplo, quem se lembra que o PT não apoiou a aliança partidária que elegeria Tancredo Neves, em 1984, e também não assinou a Constituição de 1988?
São as frivolidades da nossa política.


O Brasil é um país engraçado, multifacetado politicamente. Um cientista político baiano me disse que somos um eleitorado complexo, sem muita definição ideológica. Votamos no candidato, não no partido. Ele me dá como exemplo a cidade de Salvador. “Os soteropolitanos votam ao mesmo tempo no carlismo, em ACM [o falecido senador] e também votam em Lula para presidente”. Taí. Característica clara de eleitorado com indefinição político-ideológica. Ou seria uma qualidade de eleitorado pluripartidário?

Quem se lembra que o PT não apoiou a aliança partidária que elegeria Tancredo Neves, em 1984, e também não assinou a Constituição de 1988?

As eleições municipais de 2008 representam um divisor de águas para 2010. A “infidelidade” que o eleitor demonstrou nas urnas, levou a surpresas, algumas nem tanto. Em São Paulo, a maior capital do país e referência política para a composição do cenário na disputa presidencial, esperava-se confirmar a força de Lula em transferir votos para sua pupila Marta Suplicy, o que não aconteceu, de fato. O presidente é bom de voto, mas patinou na tentativa de garantir a prefeitura paulistana. Talvez, agora seja o momento de auto-afirmação da liderança do governador José Serra, que deu um chega-pra-lá em Alckmin (teoricamente seu concorrente no PSDB), e virtualmente sai na frente de Aécio na briga pelo Planalto. O governador costurou a aliança entre tucanos e democratas, demonstrando firmeza e comando da situação e conseguiu o que queria: eleger seu boneco de Olinda, Gilberto Kassab.
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Esta crônica foi originalmente publicada na revista acadêmica Urna de Notícias, do 6º semestre de jornalismo na Universidade Paulista, para o Projeto Integrado de Comunicação (PIC).
Autor: Tancredo Junior
Tancredo Junior, 35 anos. Jornalista, radialista, publicitário e empresário, é sócio da empresa Publicitarget Comunicação.

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