domingo, 9 de janeiro de 2011

Educação de qualidade para quem precisa

Não é fato recente que ouvimos falar sobre a má qualidade do ensino público e privado no Brasil. Desde a pré-escola, passando pelo ensino fundamental – que deveria ter a responsabilidade de formar os pequenos alunos com bases sólidas –, têm-se percebido uma má vontade dos poderes públicos em promover uma educação de qualidade, seja ela oferecida pelo Estado ou provida pelas instituições particulares, que assumiram para si – de forma meio capenga – o legado de bastiões da formação intelectual do brasileiro.

Em se tratando de uma nação formada em sua essência na desigualdade e discriminação social velada, bem poucas famílias tem condições ou o privilégio de colocar seus filhos em uma boa escola paga, criando, assim, uma casta de “nobres filhos de papai”, que podem pagar uma boa escola, e outra de “pobres filhos sem pai”, aqueles que estão fadados ao fracasso intelectual por não possuírem condições de estudar em uma boa escola.

Essa precariedade educacional do País, que parece ser generalizada e já começa na base – solapada por má formação dos professores e seus salários baixíssimos – sugere, óbviamente, que o topo tende a desmoronar, lentamente, sem fazer ruído ou alarde, passando despercebido por aqueles que deveriam cuidar e zelar da intituição mais nobre que uma nação possui: a educação de qualidade para todos, gratuita, sem distinção de raça, credo ou condição social e econômica. Afinal, está na Carta Magna, o direito à educação é inegociável.

Tome-se como base e referência desse desnível econômico e social o fato de o próprio ministro da educação, Fernando Haddad, ter seus filhos matriculados em escola particular. É prova tanto do poder econômico no qual ele e sua família estão inseridos, quanto da sua evidente desconfiança na qualidade da educação pública.

Seria injusto, porém, apontá-lo como um Judas. Não só ele, mas a grande monta de políticos assim o faz.

Quem pode e tem juízo, por pior que seja, é melhor ter seus filhos e parentes estudando em escolas particulares do que em escolas públicas.

Tudo se explica facilmente, pelo menos na teoria. Depois do golpe militar de 64, a partir dos anos 70, o Brasil teria deixado de investir na qualidade educacional, por culpa dos governos militares, que se preocupavam mais com a caça aos comunistas do que com o que se ensinava nas escolas públicas.

Essa corrente de pensamento parece embasar-se na comparação com o nível do ensino público nas décadas de 50 e 60, pois quem viveu nesse período afirma que o glamour e a qualidade efetiva da escola pública era um referencial para todas as famílias tradicionais da época.

José Sérgio F. de Carvalho, professor de Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) aborda essa questão em um artigo de sua autoria denominado “A qualidade de ensino vinculada à democratização do acesso à escola”, publicado no site www.scielo.br.

Por fim, há inúmeras pesquisas, artigos e trabalhos acadêmicos que tentam decifrar, ao longo dos últimos cinquenta anos, o que realmente deu errado no sistema educacional brasileiro.

Fato é que a má formação, iniciada já na base da pirâmide (a pré-escola e o ensino fundamental), acarretará uma ruptura que só será notada de forma mais clara no topo, ou seja, no ensino superior, culminando com vexames de várias instituições de ensino superior constatado no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), que avalia o conhecimento dos alunos, e no IDD (Indicador de Diferença de Desempenho), que compara o desempenho de calouros e formandos e mede o quanto o aluno absorveu de conhecimento na universidade.

Em sua última edição, esses exames constataram, por exemplo, que a Universidade Federal da Bahia (UFBA), uma das mais tradicionais do país, obteve nota abaixo da média na avaliação do curso de medicina, o primeiro do país, criado em 1808.

Pode não ser nada. Mas se observarmos que do total de 17 universidades avaliadas pelo MEC, quatro são instituições geridas diretamente pelo poder executivo federal, estamos diante de um quadro que aponta para um sistema público de ensino superior que pode estar defasado e carente de reestruturação.

Em 2007, segundo dados do Censo da Educação Superior, o total de alunos que se formaram nas universidades públicas diminuiu 9,5%, e a principal razão dessa queda é a falta de investimentos dos governos federal e estaduais nas instituições que estão sob a sua gestão. Em segundo lugar, o censo aponta o descontentamento dos estudantes em relação à qualidade dos cursos oferecidos.

Sobram, assim, vagas nas universidades particulares, que oferecem cursos com péssima avaliação e poucos professores com mestrados ou doutorados, turmas com o dobro do número de alunos, alta rotatividade provocada pela ampla desistência. No final, essas universidades terão formado profissionais frustrados e sem o menor preparo para o mercado de trabalho.

Diante de tudo isso, cabe a nós, leigos ou doutores, estudantes ou professores, políticos ou cidadãos comuns, a missão de reavaliar se realmente esse é o modelo educacional que queremos manter para as próximas gerações, ou se desejamos uma reformulação completa do sistema que hoje nos é oferecido.

Mas não basta apenas desejar mudanças. É preciso enfatizar os erros já conhecidos e exigir dos legisladores e poderes executivos políticas públicas eficazes e consistentes, que tragam resultados evidentes.

Artigo escrito e postado por Tancredo Junior em 14/06/08 no blog dos alunos de Jornalismo da Unip.

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